terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Para o meu amigo António

Estava eu muito aplicada ao estudo da farmacologia e dos analgésicos opiáceos quando o meu velho amigo António Ervilha-de-cheiro fez questão de me mandar a sua óptima criação. Uma delicia, como sempre! Espero que gostem também!


A próxima paragem não existe
Vês, não tem luz!
Vá-se lá saber,
Sabendo já que, segundo estudos comprovados,
Os insectos são atraídos por coisas brilhantes,
Vá-se lá saber, dizia eu,
Porque razão o enxame metropolitano sai quase todo aqui,
Quando a luz está toda cá dentro!
E sai com uma pressa e prontidão admiráveis
Em direcção a sabe-se lá que fogo-fátuo
Melancolicamente cintilante num horizonte tão quotidianizado
Que anuncia morte em vida em letras néon!
Ah, são quase todos apanhados na falsa teia,
Comidos pela aranha fosforescente que nada dá em troca sem ser um arroto metálico
E com cheiro a fumo de escape…
O resultado da digestão são as carapaças vazias dos coleópteros, lepidópteros, ortópteros,
Himenópteros, homópteros, dípteros e todos os mais parentes opteros e não opteros,
Que cirandam por aí, esvoaçantes atrás de luzidios enganos….
E não vêem, vendados com essa penumbra, que a luz está toda cá dentro!
A minha está sentada à minha frente, aliás (o banco ao lado estava ocupado)
Já dizia o outro, com mais razão e fundamento que qualquer estudo científico,
Que só se vê bem com o coração....
A. Ervilha-de-cheiro
P.S.: Que bom matar saudades tuas António! :)