domingo, 30 de novembro de 2008

Pedra Filosofal



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo
(...)
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
(...)
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida
,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


António Gedeão, "Pedra Filosofal"


Um fim de semana tão bonito e eu aqui agarrada a estudar genética! Humpf!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Chocolate Preto

Às vezes dou por mim
Sem saber que coisa é esta
dentro do meu
corpo.
Que alma é esta dentro de mim?!
Sou areia que se enfia
no meio dos dedos dos pés,
Sou uma manta rota e cheia de borbotos
e sandália de salto alto,
das mais
sensuais...
Não sou flor que se cheire, de certeza!
Sou morangos com champanhe
(só porque adoro morangos e odeio champanhe)
Sou pipoca meio doce e meio salgada
e limão com coca-cola
(nunca coca-cola com limão!)
Sou uma guitarra de cordas partidas
e uma clave de sol mal desenhada...
Sou o lugar onde os lábios se encontram
e a razão porque as mãos se separam.
Sou palavras,
sem significado,
sem som,
sem letras.
Sou um pequeno grão de café
à espera de ser saboreado...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pessoa



"Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil"
Álvaro de Campos, "Ode Triunfal"



Para quem dizia que não gostava de Pessoa,
acho que fiquei um tanto ou quanto,
como é mesmo que se diz?!
...
viciada!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Açúcar amarelo


Gosto de contar as sardas do teu corpo e de gozar com cada defeito teu.


Não me leves a mal...

...mas juro que quando junto a minha mão à tua, a raiva me cresce por dentro!

A tua é maior...fico chateada!


E entre mordidelas e beliscões de reconciliação lá me dás o teu amor

traiçoeiro,

imprescindivel ao meu sorriso.


És doce como o açucar que fica no fundo da minha chavena de café

e ao mesmo tempo tão amargo e viciante como o limão.

És uma confusão um tanto ou quanto parva de parvoices emaranhadas.

Que destino o meu de estar apaixonada pela tua imperfeição!


Perdidos no meio de lençois apetece-me empurrar-te

só para depois te dar beijinhos (babosos, mesmo na tua bochecha) de desculpas.


"Posso não querer voar?!"

De que me interessa que ele me leve ao céu

ou me faça andar pelas núvens?

Isso são apenas desejos fúteis

de pessoas vazias.


Dispenso tal tipo de coisas!

Eu acabei de encontrar o meu paraiso:

algures no meio dos teus lençois, entre mordidelas e sorrisos.

Na mais perfeita das imperfeições.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Basta um café e um cigarro

"São dois cafés normais e um cheio, se faz favor"

Basta um café e um cigarro.

O resto não tem lugar na nossa mesa.


"Ora, três cafézinhos bem quentinhos! Mais alguma coisa?"


Não, não precisamos de mais nada.

Só um cafézinho quente

e um cigarro

(de vez em quando...)


A partir daqui,

a chavena de café é apenas um barco

que transborda amizade

e nos leva de viagem.

Para longe.