Mal chego a casa da minha irmã mais velha dou o presente ao pequenote que não se demora a rasgar o papel. Parece-me ter visto estrelinhas a brilhar no seu olhar. Olha para mim como se eu fosse uma espécie de Deus e no meio de um monte de sons impossiveis de traduzir, penso identificar um "obrigado" codificado.
A polly pocket tornou-se o maior amor da vida do meu sobrinho. Nunca mais a deixou, brincava com ela a toda a hora. Um dia, quando andáva nas arrumações com a minha irmã fui ao seu quarto. Haviam montes de brinquedos abandonados, escuros e tristes, presos dentro de arcas, a gritar por socorro. Sem saber o que fazer para os ajudar fui falar com o meu sobrinho. Perguntei-lhe porque é que ele já não brincava com os outros bonecos. Não me respondeu, apenas abraçou a boneca nova, mais bonita que qualquer um dos outros, mas que de certeza não conhecia as manhas do seu dono, afinal só o conhecia há alguns dias. "Já não gostas dos outros brinquedos?". Acenou-me com a cabeça. "Não".
Fiquei triste. Fui até ao quarto ter com os outros brinquedos, dar-lhes um pouco de mimo. Eles sorriram-me, mas a tristeza dos seus olhares teimava em estragar aquele sorriso.
Passaram-se algumas semanas, era dia de limpeza geral em casa da minha irmã. O meu sobrinho andava entretido com um carrinho novo que o pai lhe ofereceu e eu fui limpar o quarto do miudo. Para minha grande surpresa estava lá a Polly Pocket. E tinha o mesmo ar de tristeza dos outros bonecos...
E quantas lições de moral se tiram daqui?
Não ponho imagem porque aposto que quando lerem isto
vai uma imagem formar-se na vossa cabeça...